Este é o grande problema quando os "putos" (sim, eu sei que há adultos e até doutores com a mesma opinião) de hoje analisam e comentam a escravatura. Não, na percepção da época a escravatura não era errada. Na percepção da época os negros eram animais, como os burros ou qualquer outro animal que se usava para o trabalho. Os primeiros negros que os portugueses viram estavam nus, viviam em barracas, conheciam o fogo, mas nem a roda tinham, e faziam gestos e sons que os homens brancos da altura associaram mais a macados que a pessoas. Esta foi a percepção da época, e enquanto não nos permitirmos falar disto desta forma, sem começarmos logo a gritar que quem o afirma hoje é racista, nunca poderemos ter uma conversa séria sobre escravatura. Ela aconteceu, faz parte da nossa história e a história não se muda, aceita-se e compreende e não se repetem os erros.
Quando voltaram das primeiras aventuras pelas Costas de África, os navegadores trouxeram diversos animais curiosos que os europeus nunca tinham visto, entre eles o selvagem negro. Esta era a percepção da época. Quando chegámos à costa Este de África, deparámos com um grande comércio de Escravos já estabelecido pelos Árabes, porque os árabes escravizavam tudo o que mexia, nisso não eram racistas sobre quem acorrentavam, ainda hoje o fazem. E os europeus, vendo que os "selvagens" estavam a ser escravizados, entraram no negócio. Com o tempo, aqueles "Selvagens", os que chegaram aos nossos países, acorrentados, forçados, com o espírito destruído, começaram a ter comportamentos cada vez menos "selvagens", aprenderam as línguas desses países, a religião e a consciência colectiva sobre os "selvagens" começou a mudar. passámos a ver pessoas neles, pessoas diferentes, mas pessoas e surgiram os movimentos abolicionistas. Porque houve consciência, porque a percepção mudou, porque se percebeu que não eram animais e sim pessoas que ali estavam, pessoas diferentes, mas pessoas, com uma alma, sentimentos... com personalidade.
O problema quando analisamos comportamentos bárbaros de uns seres humanos relativamente a outros, ainda hoje em dia, é não conseguirmos aceitar que existem percepções diferentes da realidade.
Ainda hoje, quando se analisa os actos bárbaros dos extremistas muçulmanos, não percebemos que eles não estão mesmo a ver nada de errado no que fazem. Para eles, o que eles estão a fazer é o correcto, nós é que estamos errados. É nisto que erramos ao analisar estas questões, porque enquanto não percebermos que a mente deles pensa de maneira diferente da nossa, não nos vamos salvaguardar da forma que deveríamos, não vamos abordar o tema da forma como deveríamos nem vamos encontrar qualquer solução.
Mas voltando ao tema escravatura e descobertas. Enquanto aceitarmos discursos como os da Joacine, de ódio ao português actual, de nos meter ao mesmo nível dos portugueses que andaram pelos descobrimentos e enfiaram escravos em barcos, sem perceber que a percepção da época era completamente diferente da actual, sem perceber que o português de hoje, conhecendo o que se passou, sabe que foi errado, mas nada mais pode fazer para o mudar, não vamos encontrar paz social entre negros e brancos. Porque o branco de hoje já não tem, há séculos, a percepção sobre o negro que a Joacine ainda acha que tem. Compreendo que uma menina que foi enfiada num internato de uma IPSS, para onde vão aqueles jovens cheios de problemas, tenha sido vítima de abusos muito traumatizantes, mas não percebo que essa mesma menina ainda não tenha olhado para o país que a tornou doutora e deputada e visto que nem todos somos miúdos de uma IPSS. Nem compreendo que essa mesma menina não entenda que, há muito muito tempo, os portugueses na generalidade não catalogam as pessoas por tom. Nem compreendo que essa menina não perceba que afirmar que na generalidade os portugueses não são racistas, não é o mesmo que afirmar que "não existem racistas em Portugal"... existem infelizmente demasiados (1 era demasiado) e um deles é ela própria... gostava de a ver crescer, respirar fundo, e largar o ódio que sente. Porque um mundo sem ódio era muito melhor.